Levantamento Documental: César Lattes (1990-1999) | ||
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# | Transcrição | Periódico |
1 | "A Sociedade Brasileira de Pesquisas Físicas está sentindo na pele a aprovação da lei do funcionalismo, que prevê a aposentadoria automática para quem tem mais de 70 anos. Físicos brasileiros no auge de suas atividades, como Jayme Tiomno e José Leite Lopes, serão aposentados compulsoriamente. Daqui a dois anos será a vez de César Lattes." | Jornal do Brasil, 5 jan. 1991 |
2 | "A aposentadoria imerecida O Rio de Janeiro não é somente a Cidade Maravilhosa de Noel e da Bossa Nova, mas é também - o que talvez a sua população, com seu jeito cosmopolita e sem bairrismos, desconheça - a cidade que abriga o maior número de Institutos Oficiais de Pesquisa Científica Avançada de nosso País. [...] Devemos isso à políticos de visão ampla como Lins e Barros, Álvaro Alberto e outros, e a cientistas como Leite Lopes, Jayme Tiomno, Oliveira Castro, Cesar Lattes e outros que fundaram o CBPF, ajudaram a criar o IMPA e até mesmo inspiraram e orquestraram a criação do próprio CNPq, cuja sede, hoje em Brasília, era em nosso estado quando o Rio era Capital Federal. O Observatório Nacional, como já nos descreveu neste jornal o astrônomo Rogério Mourão, teve sua criação há muito mais tempo, em uma época em que o Rio era sede do Governo e da Família Imperial. Agora, em notícia recente, fomos informados que por determinação da Secretaria de Administração do atual Governo Federal alguns de nossos melhores, mais competentes e ativos cientistas destes Institutos estão sendo compulsoriamente aposentados, por terem atingido a idade limite de 70 anos. Não somente contra suas vontades, bem como a de seus colegas cientistas que com eles interagem e deles absorvem sabedoria e conhecimento. [...]" | Jornal do Brasil, 14 jan. 1991 |
3 | "Jovem cientista brilha sem apoio Jovens cientistas brasileiros superam dificuldades e desenvolvem pesquisas de ponta, utilizando, por exemplo, a sofisticada engenharia genética para enfrentar endemias do Terceiro Mundo. Na área de pesquisa básica, o físico da Unicamp André Assis, 28 anos e fã do grupo pop norueguês A-Ha, questiona leis de Newton sob aplausos de César Lattes. Apesar do aumento do programa de bolsas de estudo, os pesquisadores esbarram em universidades e laboratórios mal aparelhados. A redução do mercado leva ao abandono da profissão, que no Brasil ocupa 0,06% da população, contra 8,7% no Japão. Os investimentos na área de ciência e tecnologia são hoje 40% mais baixos do que em 1987. (Pág. 26)" | Jornal do Brasil, 9 jun. 1991 |
4 | "André Assis Um fã do A-ha que pode mudar leis de Newton SÃO PAULO - Um ex-voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), de 28 anos, fã do grupo pop norueguês A-ha e torcedor do Flamengo é um dos mais destacados candidatos a ocupar o lugar de César Lattes no posto de mais conhecido físico brasileiro. O jovem professor do Departamento de Raios Cósmicos do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) André Kock Torres Assis está deliciado com a repercussão internacional de seus trabalhos. Assis tenta explicar lacunas nas leis de Newton, o pilar sobre o qual se estruturou a física clássica a partir do século 17, sobre princípios da dinâmica e da gravitação. O próprio Lattes é um dos maiores entusiastas do trabalho de Assis. "Esse rapaz é o que surgiu de melhor em física teórica do país nos últimos 100 anos", vaticina Lattes. [...]" | Jornal do Brasil, 9 jun. 1991 |
5 | "O Lafex e a pesquisa no Brasil MÁRIO NOVELLO* O Lafex vem sendo estruturado desde sua formação, há alguns poucos anos, no interior do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), órgão do CNPq, subordinado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, para empreender atividades de pesquisa envolvendo a cooperação de cientistas que trabalham nos extremos do conhecimento: no infinitamente pequeno (a chamada física das partículas elementares, que trata dos constituintes básicos de toda matéria); bem como no infinitamente grande (a Cosmologia, isto é, a ciência da totalidade do espaço, do tempo e da origem da matéria existente no nosso Universo). Nunca é demais enfatizar que a ciência é uma atividade coletiva, por mais individualista e intimista que o trabalho científico possa parecer. Se o Lafex pôde atingir uma qualidade internacional que é agora prestigiada, isso se deveu não somente aos nossos atuais pesquisadores, mas, e de um modo bastante profundo, à tradição de excelência que nos foi legada pelos pais-fundadores, dentre os quais devemos citar os cientistas José Leite Lopes, Jayme Tiomno, Mário Schoemberg, Cesar Lattes, dentre outros. Eles souberam com sua elevada competência formar uma geração de jovens cientistas. E a produção de boa qualidade científica só pode ser conseguida com uma contínua formação de novos bons pesquisadores. [...] * Cosmólogo do Lafex (Laboratório de Cosmologia e Física Experimental de Altas Energias)" | Jornal do Brasil, 10 maio 1994 |
6 | CONVITE O CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS (CBPF) convida a comunidade Científica e Tecnológica do Rio de Janeiro para as comemorações em homenagem aos setenta anos do seu ilustre pesquisador e fundador professor CESAR LATTES, dia 20 de Dezembro às 16:30 min em sua sede na Rua Dr. Xavier Sigaud, 150 - Urca - Rio de Janeiro. Na ocasião será lançado o livro "CESAR LATTES 70 ANOS: A Nova Física Brasileira." Professor Amós Troper - Diretor | Jornal do Brasil, 18 dez. 1994 |
7 | "Cidade abriga pesquisa de ponta do país O Rio é cheio de ilhas de excelência, nome acadêmico das instituições de pesquisa de alto nível. Destacam-se a Coppe, grande centro de pós-graduação em Engenharia, o Impa, vanguarda matemática, e o CBPF, fundado por César Lattes. (Página 14)" | Jornal do Brasil, 10 jan. 1995 |
8 | "O Brasil e o Top Quark J. LEITE LOPES* Todos sabemos que o mundo em que vivemos - esta mesa, esta casa, aquela árvore, a água que bebemos, o ar que respiramos, - é formado de minúsculas partículas, os átomos. Inventados há mais de dois mil anos, postos de lado pelos inúmeros sistemas filosóficos que se desenvolveram desde a Grécia antiga, ressuscitados pela Química no século XVII, os átomos tiveram sua existência comprovada pelos físicos neste século. A enorme variedade de corpos que nos rodeiam foi assim explicada em termos de noventa e duas espécies de átomos - uma síntese extraordinária, que devemos ao físico russo Mendelejef. E estes foram reduzidos a partir dos anos 30, a sistema de elétrons e de núcleos atômicos -. Já o núcleo é formado de dois tipos de partículas, o próton e o nêutron, cujo número cresce nos átomos da tabela de Mendelejef e cuja estabilidade depende da correlação entre as forças de atração entre os núcleons - próton ou nêutron - e as de repulsão pelas cargas positivas dos prótons. O número de elétrons num átomo neutro é igual ao número de prótons no seu núcleo. No ano de 1947, descobriu-se na radiação cósmica - que se originam no espaço celeste e bombardeiam a Terra - a existência de duas novas partículas, o pion e o muon, a primeira sendo aquela admitida teoricamente pelo físico japonês Hideki Yukawa como responsável pelas forças nucleares - atração entre prótons e nêutrons nos núcleos atômicos - e o segundo, o muon, no qual se desintegra o pion e que finalmente se desintegra em elétron, é uma espécie de elétron, duzentas vezes mais pesado que este. A esta descoberta deu contribuição fundamental o físico brasileiro Cesar Lattes. Após trabalhar na Inglaterra e nos Estados Unidos reuniu-se com colegas para fundar, em 1949, no Rio de Janeiro, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. [...] * Físico, Professor emérito, do CBPF, da UFRJ e da Universidade de Strasbourg I, autor do livro Estrutura quântica da matéria, do átomo pré-socrático às partículas elementares, edit. UFRJ, 1992." | Jornal do Brasil, 2 maio 1995 |
9 | "Gil prepara um disco inspirado na Mangueira [...] Em Lisboa, Gil falou no novo disco concebido a partir do samba enredo Ciência e arte, da Mangueira - assinado pelos mestres Cartola e Carlos Cachaça nos anos 50 - e que teria uma participação de Tom Jobim. "O samba de Cachaça cita ao mesmo tempo Pedro Américo e Cesar Lattes." [...]" | Jornal do Brasil, 1995 |
10 | "Lei da Física Ninguém mais, ninguém menos do que o físico brasileiro César Lattes assina o texto de abertura do novo disco de Gilberto Gil, Quanta. Gil gravou a música Ciência e arte, de Cartola e Carlos Cachaça, que cita Lattes. Informação cultural: quanta é plural de quantum, que é o valor máximo possível de uma grandeza - dizem os físicos." | Jornal do Brasil, 16 mar. 1997 |
11 | "Tabelinha de Gil e Lattes Gilberto Gil e César Lattes unidos num disco (o CD duplo Quanta). O físico faz o prefácio do encarte, porque o disco tem músicas ligadas à ciência... e à magia. (Pág. 1)" | Jornal do Brasil, 9 abr. 1997 |
12 | "A ciência do mago Gil Após quase cinco anos sem lançar disco de inéditas, o cantor e compositor baiano fala de 'Quanta', que mistura suingue e introspecção [...] "O universo quântico tem a possibilidade de desvendar a proximidade entre o mundo mágico e a racionalidade técnico científica Entre os ícones da informática [...] Dedicado aos extremos estéticos de Cássia Eller e Zeca Pagodinho e in memoriam de Chico Science, o disco é prefaciado pelo físico Cesar Lattes, celebrado no samba-enredo dos mangueirenses. Com humildade, o cientista que comprovou a existência da partícula subatômica píon, em 1947, diz que a "ciência é irmã caçula (talvez bastarda) da arte". Curiosamente, a abordagem científica do roteiro de Gil resulta num dos discos mais místicos de sua carreira, onde são evocadas entidades do hinduísmo (Dança de Shiva), do candomblé (Ossãin, a divindade das plantas, em Água benta) e mais nagual, o espírito guardião dos índios meso-americanos ou até mesmo o Canto dos Cânticos da Bíblia. Além do princípio da ação sem intenção da filosofia chinesa, o wu wei numa encarnação pop, sincopado pelo samba ("o movimento está para o repouso/ assim como o sofrimento está para o gozo", sofisma Pop wu wei), Gil transita pelos ícones da informática em outro samba, Pela Internet, que remete ao pioneiro Pelo telefone, citado na música com a devida atualização precatória: "o chefe da polícia carioca avisa pelo celular/ que lá na Praça Onze tem um videopôquer para se jogar". [...]" | Jornal do Brasil, 9 abr. 1997 |
13 | "PINGUE-PONGUE - Ao mesmo tempo em que o disco tem uma temática moderna e difícil, falando sobre ciência, as músicas seguem ritmos bem brasileiros, tradicionais mesmo. [...] - E mesmo as letras não são didáticas... - Sem dúvida. [...] não quis ensinar sobre ciência, mas referenciar, remeter ao tema. Outro dia, recebi um bilhete de um garoto que disse que sempre tinha achado Física e Matemática duas matérias muito chatas, mas, depois de ouvir o meu disco, tinha se animado a estudar. Era isso que eu queria fazer: aproveitar essa vulgarização da ciência moderna, essa licenciosidade de todo mundo falar sobre temas difíceis como a física quântica. Até porque eu também estou me iniciando no assunto. Na preparação do disco, estudei com Moreno Veloso, enviei músicas para o professor César Lattes, para que ele visse se não tinha cometido nenhum sacrilégio. É como se eu, como músico, estivesse de um lado da ponte e a ciência do outro, e eu só ouvisse os ecos, em meio à névoa. [...]" | Jornal do Brasil, 25 abr. a 1 maio 1997 |
14 | MÚSICA Mais lições de física Pouco depois do lançamento de Parabolicamará (1992), Gilberto Gil começou a se interessar por temas pouco digeríveis, como a física quântica. Mais tarde, foi apresentado à internet pela mulher Flora. Essas experiências serviram de matéria-prima para seu último CD, Quanta, lançado no Canecão em abril deste ano. Agora, o compositor baiano realiza mais uma vez a alquimia de transformar ciência em arte nesta sexta e sábado, no Metropolitan. "Temas complexos como a filosofia da religião e a fronteira entre ciência e arte podem ser simplificados pela música, que é um veículo acessível", acredita. [...] PINGUE-PONGUE Gilberto Gil [...] - Duas músicas do show mostram visões opostas sobre a ciência. Isso foi proposital? - Sim. Você fala de Cérebro eletrônico, escrita nos anos 70, e a recente Pela internet. A primeira é cética, fala dos riscos da máquina substituir o homem. A segunda mostra que existe também o lado positivo, o de integrar. - O físico Cesar Lattes afirma no encarte do seu CD que a ciência é a irmã bastarda da arte. Isso quer dizer que ciência e arte estão mais próximas do que se imagina? - A arte, a religião e a ciência são maneiras diferentes para se atingir os mesmos fins. Mas, no fundo, no fundo, todas elas procuram respostas para as mesmas perguntas." | Jornal do Brasil, 28 nov. a 4 dez. 1997 |
15 | "Cesar Lattes em livro A historiadora da ciência e pesquisadora do Mast Ana Maria Ribeiro lança amanhã, às 19h, no Museu de Astronomia e Ciências Afins, o livro Físicos, mésons e política: a dinâmica da ciência na sociedade. Ela aborda o processo que levou Cesar Lattes, Giuseppe Occhialli e Cecil Powell a descobrirem, em 1947, o méson I pi nos raios cósmicos. O livro mostra ainda a tentativa de construir e montar aceleradores de partículas no Brasil, exemplificando com a aliança entre militares, cientistas e políticos para viabilizar a produção de energia nuclear e o desenvolvimento da ciência no país." | Jornal do Brasil, 28 jul. 1998 |
16 | CBPF: 50 anos MÁRIO NOVELLO* Ao final da década de 40, sob o forte impacto da Segunda Grande Guerra, uma certeza generalizada apareceu entre nossos governantes: a de que as transformações tecnológicas haviam se tornado uma presença permanente nos negócios do país, definindo uma nova noção de soberania. Isso produziu, na prática, uma imperiosa necessidade de gerar transformações substanciais nas relações internas e no modo de realizar o governo. Como pano de fundo, a aumentar enormemente a dramaticidade do momento, a possibilidade de utilização de armas atômicas gerava uma atração irresistível para os físicos. Dentro desse cenário, não foi tarefa difícil convencer nossos governantes de então da necessidade de instalar na capital federal um centro de pesquisas de alto nível. Estava satisfeita a pré-condição para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. [...] O grupo de cientistas envolvidos na construção do CBPF era constituída por jovens brilhantes: só para citar alguns, ali estavam César Lattes, José Leite Lopes e Jaime Tiomno. O primeiro, havia realizado um maravilhoso trabalho de detetive atômico, à procura de evidência da existência do méson pi, uma das partículas consideradas fundamentais. O sucesso dessa pesquisa é do conhecimento de todos e introduziu de imediato o nome do Brasil no cenário científico internacional. Tiomno elaborou uma mudança radical de pensar o mundo das partículas elementares ao aceitar a análise de que novos conceitos deveriam ser ali empregados. Entre eles, em particular, a chamada miolação da paridade, que consiste na curiosa e inesperada propriedade que certo tipo de interação da matéria possui de distinguir uma partícula elementar de sua imagem refletida no espelho. Leite Lopes se destacava graças principalmente à sua brilhante imaginação que o conduziu a antecipar a idéia de existência de uma partícula elementar (chamada de bóson vetorial) capaz de servir como intermediador das interações nucleares. E muito mais se poderia falar, embora não seja este o lugar apropriado para essas questões. [...] *Físico do CBPF" | Jornal do Brasil, 12 maio 1999 |
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